top of page

A floresta que alimenta, sustenta e emancipa: por que os Sistemas Agroflorestais (SAFs) são chave para o futuro da Amazônia

  • Foto do escritor: Solano Ferreira
    Solano Ferreira
  • 5 de jun.
  • 4 min de leitura

No Dia Mundial do Meio Ambiente, Paula Vanessa Silva, gerente de GSB do IFT, defende os SAFs como estratégia para combater a crise climática, promover justiça social e fortalecer a Amazônia com protagonismo comunitário. 

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Enquanto o mundo debate soluções para a crise climática, a Amazônia já possui algumas respostas concretas. Enraizada nos territórios agroextrativistas podemos encontrar uma delas: os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Essa prática, que integra a produção de alimentos com a conservação da floresta, tem se mostrado essencial para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, conservar a biodiversidade, garantir soberania alimentar e gerar renda para comunidades tradicionais - especialmente mulheres e jovens - que vivem e cuidam da floresta.

 

Falo dos Sistemas Agroflorestais (SAFs), práticas ancestrais e inovadoras que combinam culturas agrícolas, espécies florestais e saberes tradicionais em harmonia com o ecossistema. Mais do que uma técnica agrícola, os SAFs são uma estratégia potente para enfrentar os grandes desafios do nosso tempo – mudanças climáticas, insegurança alimentar, desigualdades sociais e degradação ambiental.

 

No Dia Mundial do Meio Ambiente, precisamos olhar para esses sistemas como pilares de um novo pacto civilizatório para a Amazônia. Um pacto que respeite os ciclos da floresta, reconheça os direitos dos povos que a habitam e promova o uso da terra por meio de uma economia regenerativa, baseada na sociobiodiversidade e na equidade.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Mitigar o clima, nutrir a justiça 

 

A Amazônia, embora essencial ao equilíbrio climático global, já sofre os efeitos dramáticos da crise ambiental. Eventos extremos, perda de biodiversidade, insegurança alimentar e hídrica são realidades que impactam diretamente as populações locais. Os SAFs oferecem um caminho inverso ao do colapso: ajudam a recompor áreas degradadas, devolvem a biodiversidade do solo além de fixar carbono, melhoram a qualidade da água e ampliam a resiliência dos territórios frente às mudanças do clima.

 

Mas os impactos vão além dos indicadores ambientais. Os SAFs são também uma ferramenta de justiça climática, pois colocam no centro da solução as comunidades mais vulneráveis – aquelas que historicamente preservaram a floresta e hoje enfrentam os maiores riscos. Ao promover acesso à terra, insumos e mercados, essas práticas ajudam a corrigir desigualdades históricas e garantir que o enfrentamento da crise climática seja, também, uma oportunidade de transformação social.

 

Em uma região onde o acesso a alimentos ainda é um desafio, os SAFs fortalecem a soberania alimentar, oferecendo produtos diversificados, nutritivos e adaptados à cultura local. A mandioca, o açaí, o cacau nativo, as hortaliças tradicionais e dezenas de outras espécies, como pequenos animais e plantas medicinais, compõem um cardápio que é ao mesmo tempo biodiverso e culturalmente enraizado. Isso significa que as comunidades não apenas se alimentam melhor, como também reafirmam seus modos de vida e seus vínculos com o território.

 

Essa diversidade alimentar não é só garantia de saúde. É também resistência. Em tempos de avanço da monocultura e da dependência de cadeias alimentares globais, os sistemas agroalimentares sustentáveis da Amazônia reafirmam o direito dos povos de decidirem como produzir e o que comer. Isso é soberania - e é base para um futuro mais justo.

 

Mulheres no centro da transformação 

 

Não se pode falar em sistemas agroflorestais sem reconhecer o protagonismo das mulheres amazônidas. Em experiências acompanhadas pela Gerência de Sociobiodiversidade e Bioeconomia (GSB) do Instituto Floresta Tropical (IFT), o que vemos é que são elas as guardiãs dos quintais produtivos, das sementes crioulas, das receitas ancestrais e das práticas de cuidado com o solo e com a vida.

 

Nas comunidades quilombolas de Vila União e Campina, no arquipélago do Marajó, são as mulheres que lideram os processos de extração e beneficiamento da andiroba, gerando renda e fortalecendo a autonomia econômica. Em Bragança, município localizado em uma região conhecida pela produção de farinha, elas organizam coletivos, orientam a juventude e influenciam decisões estratégicas da comunidade. Em ambos os casos, os SAFs têm sido uma porta de entrada para a emancipação feminina, abrindo caminhos para a liderança, o empreendedorismo, a segurança alimentar e a dignidade.

 

Ao diversificar a produção e integrar cadeias de valor sustentáveis, os SAFs ajudam comunidades a se desvincularem da lógica extrativista predatória. O açaí orgânico, o cacau de origem, os óleos vegetais certificados, a castanha do Brasil - todos esses produtos vêm ganhando espaço em mercados que valorizam a rastreabilidade, o comércio justo e o impacto positivo. E é exatamente essa a ponte que iniciativas como a GSB buscam construir: conectar saberes locais com oportunidades globais, sem abrir mão da floresta em pé.

 

Dados recentes do IBGE mostram que a agricultura familiar responde por cerca de 70% dos alimentos consumidos no Brasil. Na Amazônia, ela representa não só segurança alimentar, mas também conservação ambiental e cultura viva. Investir em SAFs é, portanto, investir naquilo que o mundo mais precisa hoje: soluções integradas, baseadas na natureza e enraizadas em justiça.

 

Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, nossa maior homenagem à Amazônia deve ser o compromisso com práticas que regeneram, emancipam e inspiram. Os Sistemas Agroflorestais não são apenas uma alternativa produtiva – são uma expressão concreta do que pode ser uma economia amazônica viva, justa e sustentável.

 

A floresta que alimenta é a mesma que ensina. E ela tem nos mostrado que o futuro não está apenas nas grandes tecnologias ou nos investimentos de impacto. O futuro está no cuidado com a terra, na sabedoria dos povos, na força das mulheres e na diversidade como valor.

 

Que saibamos, enfim, ouvir o que a floresta vem dizendo. E que tenhamos coragem de semear um novo tempo – mais verde, mais justo e mais humano.

 


Comentários


Quem somos

O Blog MUNDO E MEIO é um canal de comunicação segmentado para o jornalismo ambiental, sustentabilidade, economia responsável, pesquisas que apresentam resultados transformadores, tecnologias e inovações que ajudam na vida sustentável.

Enfim, somos guiados pelo interesse coletivo visando a vida equilibrada neste planeta, de forma que as futuras gerações encontrem condições naturais e humanas que garantam a continuidade dos ciclos vitais.

Presamos pela verdade, pelo jornalismo ético e acreditamos que é possível melhorar a vida no meio em que vivemos com práticas responsáveis que levam para o equilíbrio e promovam o desenvolvimento sustentável. Por isso, tudo o que publicamos, buscamos evidências que comprovem e afirmam o que está destacado no conteúdo.

TIPOS DE CONTEÚDOS:

Notícias: publicações de fatos e acontecimentos do cotidiano que sirvam para a reflexão e para a criação de múltiplos pontos de vista soabre o tema.

Análises: Textos produzidos por especialistas e conhecedores de temas que possam contribuir com a formação da opinião e do discernimento sobre o assunto abordado.

Opinião: Textos produzidos por pessoas com amplo domínio quanto ao assunto tratado.

Pesquisas: Conteúdos de divulgação de resultados de pesquisas que favoreçam para a sustentabilidade tendo como autores profissionais e instituições renomadas que possam certificar originalidade e segurança de resultados.

Conteúdo patrocinado: Informações de interesse público produzidos e distribuídos por empresas ou instituições tendo como finalidade mostrar suas mensagens e ideias dentro do contexto editorial deste periódico.

Fale conosco

SF Comunicação e Marketing

Rua Patápio Silva, 5412 bairro Flodoaldo Pontes Pinto

CEP 76820-618 Porto Velho - RO

WhatsApp: 69 99214-8935

Editor Responsável: Solano de S. Ferreira DRT/RO 1081

E-mail: redacao.mundoemeio@gmail.com

  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Instagram Icon

Gratos pelo contato

bottom of page