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Baldes plásticos viram mini estufas e inovam o cultivo de castanheira no Acre

  • Foto do escritor: Solano Ferreira
    Solano Ferreira
  • 13 de mai.
  • 4 min de leitura
Muda de castanheira pronta para o plantio - Foto de : Emanuelle Araújo Granja
Muda de castanheira pronta para o plantio - Foto de : Emanuelle Araújo Granja

Comunidades agroextrativistas do Acre estão adotando uma técnica inovadora para a produção de mudas de castanheira-da-amazônia (também conhecida como castanheira-do-brasil ou castanheira-do-pará). Desenvolvido por pesquisadores da Embrapa em parceria com os próprios extrativistas, o método é baseado em mini estufas — um sistema simples, prático e de baixo custo —, que se mostram eficientes para a germinação e crescimento das plantas. A espécie é fundamental para a economia e o meio ambiente da região amazônica.


Mais de 360 ​​extrativistas do Acre já foram capacitados nessa técnica e há casos dos que geraram mudanças tanto para o plantio em suas propriedades quanto para iniciativas de regeneração florestal ou comercialização. De acordo com a pesquisadora Lúcia Wadt , da Embrapa Rondônia , o método foi criado pensando na realidade das comunidades, que enfrentam desafios logísticos para transportar mudanças produzidas em viveiros efetivamente.


“As mini estufas são confeccionadas a partir de baldes plásticos reutilizados, criando um ambiente controlado que favorece o desenvolvimento das mudas”, explica a pesquisadora. “Nossa meta foi tornar a produção mais acessível e viável, principalmente em pequena escala, em que há maior necessidade de soluções práticas e econômicas.”

Foto: Emanuelle Granja
Foto: Emanuelle Granja

Valor econômico e social


Reconhecida pela produção de castanhas de alto valor econômico no mercado nacional e internacional, a castanheira é uma espécie essencial para pequenos produtores e agroextrativistas. No entanto, o cultivo enfrenta desafios como a dormência das sementes, que possuem cascas duras, a falta de uniformidade na germinação e o ataque de roedores, atraídos pelas castanhas presas às mudas.

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A principal forma de propagação da castanheira é por meio de sementes. Há diversas recomendações documentadas para a produção de mudas em viveiros florestais, o que exige estrutura e mão de obra especializada. São utilizadas sementeiras suspensas e canteiros com sombra e proteção contra animais, além do uso de insumos agrícolas, como sacolas plásticas ou tubetes para a germinação.


No entanto, essa tecnologia é pouco acessível para pequenos produtores e agroextrativistas que desejam produzir mudas em pequena escala, principalmente para uso próprio. Muitas dificuldades relatam na produção de mudas de castanheira.


A técnica das mini estufas busca resolver esses problemas, simplificando a produção e tornando-a mais acessível para comunidades que não dependem do extrativismo. "No método tradicional, é preciso ter segurança ou alguém que regue três a quatro vezes diariamente. No método da mini estufa, essa frequência é eliminada; é preciso molhar, claro, mas a muda ficará mais estabilizada", afirma Wadt.


Um pesquisador considera que o desenvolvimento dessa metodologia representa um avanço significativo para a produção de castanhas em áreas agroextrativistas. Ela permite que os produtores aproveitem melhor o potencial de suas áreas de plantio, estabelecendo novas castanheiras ou enriquecendo florestas degradadas “Além de ter potencial de promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis ​​na região amazônica”, conclui.

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Iniciativas locais e exemplos de sucesso


A engenheira florestal Eneide Taumaturgo, da  Secretaria de Agricultura do Acre , trabalha na transferência dessa tecnologia para produtores locais. Apesar de alguns desafios iniciais, a engenheira afirma que a metodologia foi adaptada para facilitar o processo e estimular a adoção. “Com o uso de materiais facilmente disponíveis, como baldes plásticos e substratos de fácil obtenção, é possível produzir mudas de alta qualidade com baixo custo e sem a necessidade de infraestrutura complexa”, observa.


Na  Reserva Extrativista Chico Mendes , no Acre, a engenheira agrônoma e gestora ambiental Joziane Evangelista se destaca na produção de mudas. Após treinamento pela Embrapa, Evangelista implementou a técnica em um pequeno viveiro, contribuindo para a recomposição florestal e gerando renda para a comunidade. Ela destaca que o sucesso depende de cuidados específicos, como a rápida manipulação das sementes para garantir uma boa taxa de germinação.


“Fui aprimorando o método com algumas técnicas. Agora, estou iniciando meu próprio viveiro, já fiz meu cadastro no Registro Nacional de Sementes e Mudas, o Sistema  Renasem , para poder vender as minhas mudas. Além de ser importante na recomposição florestal, a produção de mudas também vai agregar valor econômico para a comunidade, que poderá comercializar mudas produzidas na Reserva. Como sou filha de extrativista, saí apenas para estudar, acho importante trazer o conhecimento para a comunidade”, afirma Joziane. 


Passo a passo da metodologia


A produção de mudas em mini estufas começa com a escolha de sementes de alta qualidade - um dos pontos chaves na aplicação do método -, coletadas de, pelo menos, 20 árvores matrizes com boa produtividade.


Lúcia Wadt observa que a castanheira-da-amazônia é uma espécie que necessita de polinização cruzada entre árvores diferentes para a produção de frutos (alógama). Dessa forma, para aumentar as chances de sucesso na germinação, é recomendado coletar sementes de árvores diferentes e selecionadas, que apresentam boa produtividade e regularidade ao longo dos anos.


Após a coleta, é ideal que as sementes sejam submersas em água para verificar suas previsões. As que afundam são as mais adequadas por serem mais novas.


As sementes devem ser misturadas a um substrato úmido – terra ou serragem ( foto )- e dispostas em camadas dentro da mini estufa, de modo que fiquem completamente cobertas. Baldes plásticos de 20 litros, higienizados e preparados com furos para ventilação, são utilizados para manter a umidade e temperatura adequadas durante o processo, o que ajuda na quebra da dormência.

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Após a estratificação, as sementes germinadas devem ser descascadas e transplantadas para tubetes ou recipientes maiores. Nessa etapa, as mini estufas devem ser adaptadas com uma estrutura de arame coberta por plástico transparente, criando uma cobertura que ajuda a manter a umidade e a temperatura interna. Em cerca de três meses, as mudas estão prontas para o plantio em áreas de enriquecimento florestal ou regeneração de castanhas degradadas.


O conteúdo sobre o processo de produção de mudas em mini estufas pode ser acessado no  curso  on-line e gratuito, disponível na plataforma e-Campo, Ambiente Virtual de Aprendizagem ( AVA ) da Embrapa.

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