
Brasil, janeiro de 2025 - Morcegos fazem parte de um grupo extremamente rico em espécies, prestam importantes e valiosos serviços de polinização, dispersão de sementes e controle de populações de insetos, incluindo várias pragas agrícolas. Seu papel é fundamental para o ecossistema natural e para a economia humana. Por todos esses diversos motivos, um projeto inserido no Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil) pretende testar a viabilidade de portões (bat gates) em cavidades naturais subterrâneas. A instalação é feita em entradas de cavernas e/ou minas que permitem a passagem dos morcegos, mas impedem ou regulam a entrada de humanos naquelas cavernas.
A bióloga e doutora em biologia animal, coordenadora do programa da ONG Bat Conservation International (BCI) no Brasil e colaboradora em algumas ações do PAN Cavernas, Jennifer Barros, conta que a estratégia de instalação dos bat gates é proteger espécies de morcegos ameaçadas da perturbação antrópica, mas também proteger as pessoas, evitando sua entrada em cavernas com risco associado, como por exemplo, elevados níveis de CO2.Atualmente, a BCI atua no país com o intuito de frear a extinção de morcegos e promover o desenvolvimento e bem-estar das comunidades humanas por meio de iniciativas de conservação.
"Buscamos unir objetivos similares. No PAN, uma das ideias é identificar regiões propícias para criação de áreas protegidas e instalação de bat gates. Também queremos coletar dados que farão parte da avaliação das espécies ameaçadas. Hoje, temos muitas lacunas em relação a morcegos em diferentes áreas do Brasil, então é muito importante unirmos esforços entre as instituições para desenvolvermos esse trabalho", afirmou Jennifer Barros.
Segundo informações da BCI, com mais de 1.400 espécies, os morcegos são a segunda mais rica ordem de mamíferos e estão amplamente dispersos pelo mundo. Atualmente, os morcegos estão sob uma ameaça sem precedentes devido à destruição generalizada de seu habitat, às alterações climáticas aceleradas, às espécies invasoras e a outras ameaças. "No Brasil, uma das principais ameaças às espécies de morcegos é a mineração, devido à destruição de cavernas. Além disso, há a ainda a transformação dos habitats em pastagem e monocultura", afirmou Jennifer.
De acordo com o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e um dos interlocutores do PAN Cavernas do Brasil, Enrico Bernard, os serviços ecossistêmicos prestados pelos morcegos são de valor enorme para a população brasileira, e entre eles está a supressão de pragas agrícolas e de insetos que são vetores de doenças em seres humanos. "A agricultura brasileira, por exemplo, tem muito a perder caso essas espécies de morcegos desapareçam. Segundo nossos estudos, morcegos de uma única caverna podem retirar até 82 toneladas de insetos em um ano", afirmou o professor. Em relação à agricultura, Enrico explica que "só a produção de milho no Brasil hoje tem o benefício de 390 milhões de dólares por ano com a supressão de pragas, como a lagarta de cartucho e mariposas, sem contar com os benefícios obtidos pelos produtores de subsistência, que têm a ajuda dos morcegos na eliminação de insetos em suas plantações de milho, de caju, ou de mandioca, por exemplo".
Além da instalação dos portões, o PAN Cavernas do Brasil também prevê entre suas ações a realização de cursos de boas práticas de manejo de morcegos para agentes de controle agropecuário e de zoonoses, a atualização de listas de cavernas com ocorrência de espécies cavernícolas ameaçadas de extinção e a inclusão de um módulo de anilhamento de morcegos no atual Sistema Nacional de Anilhamento, até então focado em aves.
Sobre o PAN Cavernas do Brasil
O PAN Cavernas do Brasil possui outras 43 ações, que são distribuídas em quatro objetivos específicos, visando cumprir o objetivo geral: prevenir, reduzir e mitigar os impactos e danos antrópicos sobre o patrimônio espeleológico brasileiro, espécies e ambientes associados, em cinco anos. Além disso, contempla 169 táxons nacionalmente ameaçados de extinção, estabelecendo seu objetivo geral, objetivos específicos, prazo de execução, formas de implementação, supervisão e revisão.

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