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Foto do escritorSolano Ferreira

Democracia em risco: Reflexões sobre o avanço do extremismo político no Brasil

Por Joel Elias*

Democracia em risco
Imagens de câmeras de segurança do STF mostram o momento dos ataques





















O episódio de quarta-feira (13) envolvendo Francisco Wanderley Luiz, ex-candidato a vereador pelo PL de Santa Catarina, que planejou um atentado à bomba na Praça dos Três Poderes, revela a face mais sombria do extremismo político que ainda assola nosso país. As declarações de sua ex-companheira à Polícia Federal expõem a premeditação do ato terrorista, que visava especificamente atentar contra a vida do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) e outros possíveis alvos ocasionais. Este caso soma-se a uma série de ameaças e tentativas de intimidação contra membros do Judiciário que vêm sendo registradas nos últimos anos, demonstrando um padrão preocupante de comportamento antidemocrático por parte de grupos da extrema direita. A escalada da violência política tem se manifestado não apenas em ações concretas, mas também na proliferação de discursos de ódio nas redes sociais, onde ameaças veladas e explícitas se multiplicam diariamente.


Este não é um caso isolado. Desde a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro (PL) na eleição presidencial de 2022, para Luiz Inácio Lula da Silva, a direita radical brasileira tem protagonizado ações que ameaçam nossa estabilidade democrática. O ápice dessa escalada foi o atentado de 8 de janeiro de 2023, quando as sedes dos Três Poderes foram vandalizadas por grupos terroristas. A investigação desses eventos revelou uma complexa rede de financiadores e articuladores, demonstrando que o extremismo político no Brasil possui raízes profundas e ramificações em diferentes setores da sociedade. Os acampamentos em frente aos quartéis, que precederam os atos terroristas, foram apenas a face mais visível de um movimento que se articula nas sombras e que continua representando uma ameaça à ordem democrática.


A conexão entre esses eventos é evidente. As inscrições encontradas no espelho da casa alugada pelo suspeito, referenciando os atos antidemocráticos de janeiro, demonstram a persistência de uma mentalidade golpista que se recusa a aceitar o resultado das urnas e o processo democrático. Esta mentalidade tem se alimentado de teorias conspiratórias, fake news e narrativas distorcidas que circulam em grupos fechados de mensagens e redes sociais alternativas. O fenômeno não é exclusivamente brasileiro — em diversos países, movimentos similares têm surgido, frequentemente inspirados por líderes populistas que questionam a legitimidade dos processos eleitorais e fomentam a desconfiança nas instituições democráticas.


É fundamental compreender que a democracia pressupõe o debate de ideias, mas jamais a violência como instrumento político. A radicalização do discurso político tem servido apenas para fragilizar nossas instituições e criar divisões artificiais na sociedade brasileira. O histórico recente mostra que a escalada da violência política frequentemente começa com a normalização de discursos extremistas e termina em atos de terrorismo. As experiências internacionais, como o ataque ao Capitólio nos Estados Unidos em 6 de janeiro de 2021, demonstram como a radicalização política pode rapidamente evoluir para ações violentas quando não é devidamente confrontada pelas instituições democráticas.


O Judiciário tem papel crucial neste momento. A resposta institucional deve ser proporcional à gravidade dos atos, sem condescendência com aqueles que atentam contra o Estado Democrático de Direito. A punição exemplar dos responsáveis por atos terroristas não é apenas uma questão de justiça, mas de preservação da própria democracia. As investigações em curso têm revelado conexões preocupantes entre grupos extremistas e setores da sociedade que deveriam, por princípio, defender a legalidade. É necessário que as instituições desenvolvam mecanismos mais eficientes de monitoramento e prevenção de atos terroristas, sem com isso comprometer as liberdades individuais garantidas pela Constituição.


Contudo, além da necessária repressão legal, é preciso refletir sobre as raízes desse extremismo. A polarização política exacerbada e a disseminação de desinformação têm criado um ambiente fértil para o surgimento de indivíduos radicalizados, dispostos a recorrer à violência para impor suas visões políticas. O combate a esse fenômeno exige uma abordagem multifacetada, que inclui educação política, alfabetização digital e o fortalecimento dos mecanismos de fact-checking (verificação de fatos). As plataformas de redes sociais também precisam assumir maior responsabilidade no combate à disseminação de conteúdos que incitam à violência e ao extremismo.


A sociedade brasileira precisa reafirmar seu compromisso com a democracia, rejeitando veementemente qualquer tentativa de desestabilização institucional. O caminho para o fortalecimento democrático passa pelo diálogo, pelo respeito às divergências e, sobretudo, pela defesa intransigente do Estado de Direito. O momento histórico que vivemos exige uma postura ativa de todos os setores da sociedade na defesa das instituições democráticas. As entidades da sociedade civil, a imprensa livre e os cidadãos comprometidos com a democracia têm um papel fundamental na denúncia e no combate a qualquer manifestação de autoritarismo.


O momento exige vigilância constante das autoridades e dos cidadãos. A tentativa de atentado evidencia que grupos extremistas continuam ativos e representam uma ameaça real à normalidade democrática. É papel da sociedade civil denunciar e repudiar qualquer manifestação que incite a violência ou pregue a ruptura institucional. A experiência histórica brasileira, marcada por períodos de autoritarismo e ruptura democrática, deve servir como alerta permanente contra qualquer tentativa de retrocesso institucional. Os órgãos de inteligência e segurança precisam estar constantemente atualizados e preparados para prevenir e combater ameaças à ordem democrática, sempre dentro dos limites constitucionais.


O Brasil não pode retroceder. Nossa jovem democracia, conquistada a duras penas, precisa ser defendida diariamente. A pluralidade de ideias e o debate político são bem-vindos e necessários, mas jamais podemos normalizar ou tolerar ações que visem desestabilizar nossas instituições através do terror e da violência. O futuro da nação depende dessa compreensão. A construção de uma sociedade verdadeiramente democrática exige o compromisso de todos com o estado de direito e com os valores republicanos. É fundamental que as novas gerações compreendam o valor da democracia e os riscos representados pelo extremismo político. Somente através da educação, do diálogo e do fortalecimento das instituições democráticas poderemos garantir um futuro de estabilidade e progresso para o Brasil.


* Joel Elias é jornalista atuante na Amazônia

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