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Desmatamento na Amazônia aumenta presença de morcegos em áreas urbanas de Rondônia, aponta estudo da USP

Pesquisa detecta parasitas portadores de bactérias associadas a doenças humanas, destacando impacto na saúde pública.

Foto: Jornal da USP


O avanço do desmatamento na Amazônia, aliado às mudanças climáticas, está provocando mudanças profundas no comportamento de morcegos, forçando sua migração para áreas urbanas. Um estudo coordenado pelo ICB5/USP em Monte Negro (RO) identificou que entre 70% e 80% dos morcegos capturados estavam em zonas urbanas ou periurbanas, evidenciando como a destruição de habitats naturais tem aproximado esses animais das cidades. 


"Os morcegos são atraídos pela oferta de abrigo, como sótãos de igrejas e galpões abandonados, e pela maior disponibilidade de alimento, já que a iluminação pública atrai insetos", explica o professor Luís Marcelo Aranha Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB5/USP), que coordena o estudo realizado pelos pesquisadores Leormando Fortunato Dornelas Júnior, Jaqueline de Oliveira, Dra. Helena Lage Ferreira, Dra. Clarice Arns e Dr. Edison Luiz Durigon. A pesquisa também conta com a participação dos alunos de Iniciação Científica Bruno Jorge Ferreira Câmara, Igor Rodrigo Ferreira Siqueira, Hayslla Mikaella do Couto Araújo e Tainara Costa dos Santos. 


Camargo também destaca o fenômeno conhecido como spillover, ou transbordamento, que ocorre quando as alterações ambientais levam à migração de espécies silvestres para ambientes urbanos, aumentando a proximidade com os seres humanos e, consequentemente, o risco de transmissão de doenças. 


Financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a pesquisa revelou um potencial risco à saúde pública. Os ectoparasitos encontrados nos morcegos – como carrapatos e moscas – testaram positivo para bactérias dos gêneros Rickettsia e Bartonella. A primeira está associada à febre maculosa, enquanto a segunda pode causar doenças como febre das trincheiras e anemia febril aguda. Embora não tenha sido comprovada transmissão para humanos, o estudo reforça a necessidade de monitoramento constante. 


Metodologia rigorosa – Durante 25 meses, os pesquisadores capturaram morcegos em áreas de floresta, zonas urbanas e periurbanas. As capturas ocorreram três vezes ao mês, entre 17h e 23h, utilizando redes de neblina quase invisíveis à ecolocalização dos animais e busca ativa com o uso de puçá. Após serem submetidos a procedimentos não invasivos, os morcegos eram devolvidos ao local de captura. 


Os ectoparasitos retirados com pentes finos e pinças foram analisados por técnicas de biologia molecular, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz de Manaus (FIOCRUZ/ILMD), Faculdade de Medicina Veterinária e Zoonoses da USP (FMVZ/USP), Instituto Butantan (IB) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Além dos parasitos externos (ectoparasitos), amostras de sangue dos morcegos estão sendo analisadas para identificar outros patógenos, como os protozoários do gênero Leishmania. 


Os pesquisadores pretendem expandir o estudo para regiões na fronteira entre Rondônia e Mato Grosso, onde há uma zona de transição entre Floresta Amazônica e Cerrado. "Esses ecossistemas raros podem abrigar espécies de morcegos e parasitas ainda desconhecidos", observa o pesquisador. 


Camargo destaca que, embora muitas vezes temidos, os morcegos desempenham papéis fundamentais no equilíbrio ecológico, como o controle de pragas, disseminação de sementes e a polinização. Apenas 5% das espécies são hematófagas, e a maioria se alimenta de frutos, néctar ou insetos. 


Em paralelo, o núcleo de pesquisa em Rondônia, em parceria com a FIOCRUZ/ILMD e com fomento do CNPq, estuda eventual ocorrência de leishmaniose visceral canina em Monte Negro. A equipe coordenada por Camargo conta com a participação de seu doutorando Leormando Fortunato Dornelas Júnior (FIOCRUZ/ILMD) e a aluna de mestrado Amanda Carolina Aguiar (FMVZ/USP), além dos alunos de iniciação científica Gabriel de Sá Pitangui Antônio de Andrade (UNISL/P.Velho), Janaina Rodrigues Raiser e Monizi Angélica Alves Steger (Veterinária IFRO/Ji-Paraná). 


Embora ainda não haja casos registrados da doença em humanos na região, testes feitos pelos pesquisados com 450 cães na região mostraram que 15% a 20% dos animais testaram positivos para a presença de anticorpos contra Leishmania chagasi. Esse trabalho foi feito com testes rápidos, em parceria com o Ministério da Saúde. "Os cães atuam como hospedeiros e podem transmitir o protozoário aos humanos por meio do flebotomíneos, conhecido como mosquito-palha", detalha o professor. 


Foram capturados, até o momento 102 espécimes de flebotomíneos que estão sendo submetidos a testes de biologia molecular para ver se estão infectados. Além disso, o sangue dos cães que testaram positivo ao teste rápido está sendo testados por técnicas de biologia molecular para verificar se de fato estão infectados. 

Foto: iStock


Novas fronteiras – Os pesquisadores também estão investigando a presença de variantes do SARS-CoV-2 nos morcegos, visando antecipar possíveis surtos. "Acredita-se que na Ásia a transmissão aconteceu a partir de morcegos "raposa-voadora", porém, no Brasil, não temos essa espécie, mas sim morcegos menores, por isso queríamos entender se esses animais também podem ser infectados por variantes do SARS-CoV-2", afirma Camargo. 


Realizado em conjunto com o Ministério da Saúde, ICB5/USP e o Instituto Butantan, esse braço da pesquisa objetiva prever um possível surto envolvendo variantes do SARS-CoV-2. Atualmente, as amostras estão sendo estudadas na USP/SP.



Por Acadêmica Agência de Comunicação

 

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