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Indígenas do Alasca na luta contra o derretimento de geleiras e o negacionismo climático

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    Solano Ferreira
  • há 4 dias
  • 4 min de leitura

Na COP30, Aakaluk e outras lideranças de povos indígenas do Norte Global questionam soluções de geoengenharia e lobby da indústria de energia nuclear


Autor: Micael Olegário


Foto: Micael Olegário)
Foto: Micael Olegário)

Ao lado de Talia Boyd, da Rede Ambiental Indígena, Aakaluk, ao microfone, denuncia impactos socioambientais da crise climática nas comunidades costeiras do Alasca em painel na COP30


"Estamos assistindo a erosão costeira e ao afundamento das nossas terras e florestas". O depoimento de Aakaluk, nome nativo de Adrienne La-Ree Blatchford, 44 anos, evidencia como a crise climática é uma ameaça concreta à existência em vários locais do planeta. Indígena dos povos Inupiaq e Yup'ik, Aakaluk vive em Unalakleet, pequena cidade costeira do distrito de Nome, no Alasca, Estados Unidos. 


O Alasca é um dos locais do planeta mais ameaçados pelo derretimento acelerado de geleiras, consequência direta do aumento médio da temperatura global e da exploração da natureza pelo capitalismo. A perda da camada congelada chamada de permafrost libera gases de efeito estufa na atmosfera, causando inundações e afetando diretamente o bem-viver em locais como Unalakleet. 


A comunidade é acessível apenas por avião e fica às margens do Mar de Bering, perto do Oceano Ártico, com uma população estimada em cerca de 748 pessoas. A pesca de salmão e de caranguejo real estão entre as principais atividades no local, que abriga comunidades dos povos Athabascan e Inupiaq.

 

Os impactos se retroalimentam e incluem também a mudança nos padrões meteorológicos. "Temos visto tempestades às vezes precoces ou tardias e também ausência de gelo marinho na costa, que protegia nossas orlas e nossas terras dessas inundações e da erosão que ocorre devido ao aumento da intensidade das tempestades", descreve Aakaluk.


Outro elemento dessa equação do caos climático na região é a contaminação gerada pelas indústrias petroquímicas e extrativistas. "Quando esses poluentes são emitidos pela industrialização, eles são levados para o norte, ficam retidos lá e se acumulam. Eles se bioacumulam em nossos alimentos e recursos. Estamos vendo mercúrio se infiltrar em nossas águas por causa do derretimento do permafrost", explica ela. 


Em Belém, Aakaluk participa da COP30 (30° Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) pela Rede Ambiental Indígena (IEN, na sigla em inglês). A organização, chamada também de Rede Educacional Indígena da Ilha da Tartaruga, atua na defesa de povos indígenas e tradicionais ao redor do mundo. 


Trump e o negacionismo 


Principal emissor histórico de combustíveis fósseis e, consequentemente, principal nação responsável pelas mudanças climáticas, os Estados Unidos passam por uma guinada negacionista sob o governo de Donald Trump. Além disso, o presidente estadunidense já afirmou que pretende incentivar a expansão da exploração de petróleo no país. 


Aakaluk não esconde a frustração com a situação dos Estados Unidos, apesar disso, ela enfatiza a importância de combater essas narrativas. Ela também critica as propostas baseadas em geoengenharia como um novo modo de colonialismo e algo que desconsidera a relação simbiótica que os povos tradicionais possuem com osterritórios. "Nós, como povos indígenas, sabemos que a manipulação só causará mais danos e mais destruição. As nossas dietas tradicionais são a forma como equilibramos e mantemos a nossa saúde mental, física e espiritual e, sem eles, somos verdadeiramente deslocados, não só das nossas casas, mas também dos nossos modos de vida", disse Aakaluk.


A líder comunitária e ativista também alerta para a importância de combinar ações de adaptação, sem deixar de cobrar que indústrias continuem a poluir e a lucrar como sempre costumam fazer. "Nossa expectativa na COP é continuar a mostrar resistência de uma forma que impulsione uma transição justa liderada pelos indígenas". Para isso, ela menciona a recepção calorosa e as alianças com as populações indígenas brasileiras.


Energia nuclear

 

Indígena do Povo Acoma, Petuuche Gilbert é outro representante dos povos indígenas do Norte Global na COP30. Os Acomas habitam territórios no sudoeste estadunidense, no Novo México, Estados Unidos. O estado foi o primeiro lugar do mundo onde foram realizados testes nucleares, em julho de 1945, durante a Segunda Guerra Mundial. 


"As pessoas, 75 anos depois, ainda são afetadas pela primeira bomba testada. Elas ainda são vítimas da radiação", aponta o líder Acoma, contestando as mentiras do lobby nuclear. Petuuche denunciou o greenwashing da indústria de energia nuclear que tenta se vender como carbono zero, ou seja, constrói narrativas de que seus impactos no planeta podem ser compensados. Petuuche também citou a preocupação com as possibilidades de expansão da energia no Brasil. Para ele, a justificativa de usos pacíficos da energia nuclear não se sustenta. "É preciso perceber que, quando se constrói um reator nuclear, pode-se usar o plutónio desse reator nuclear para fabricar bombas atômicas", recorda. 


Durante a Guerra Fria, a energia nuclear despertou temores sobre a sobrevivência da humanidade. Agora, a crise climática expõe a insuficiência dos modelos ocidentais e modernos de civilização, como um risco real à existência humana e às relações dela com os seres mais-que-humanos (rios, animais, plantas e florestas)."Se os humanos fossem embora hoje, a Terra prosperaria. Mas, com isso, também sentiria falta da nossa presença. Os nossos parentes no céu, na água e na terra sentiriam falta da nossa presença", afirma Aakaluk, ao lembrar que a resposta para a crise climática já é conhecida e praticada há milhares de anos pelos povos indígenas.

 


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