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Mudanças nas políticas de mobilidade são defendidas por especialistas para incentivar o uso dos ônibus frente ao crescimento do transporte particular

Foto do escritor: Solano FerreiraSolano Ferreira

Foto: Divulgação/BRT

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Integração de modais, planejamento, padrão de qualidade e rapidez podem romper ciclo de queda na demanda dos coletivos e de crescimento dos veículos privados, reduzindo as emissões de CO2, concluem participantes

Mobilidade sustentável é qualidade de vida. A conclusão é dos especialistas que participaram do terceiro webinar da série de debates sobre mobilidade sustentável promovido pelo Integridade ESG nesta quarta-feira (2/10). Na visão dos participantes, integração dos modais, prioridade para o sistema de ônibus através de faixas exclusivas, planejamento integrado e investimentos foram alguns dos pontos levantados para reverter o círculo vicioso de queda na demanda dos coletivos e fazer com que as pessoas voltem para o sistema público de transporte.


Eunice Horácio, gerente de Mobilidade Urbana da Semove, destacou as mudanças de hábitos no transporte ocorridas a partir da pandemia da Covid-19.


"Essa mudança criou uma migração para o transporte particular. Então é um fenômeno que vem acontecendo em nível nacional. Aqui no estado do Rio de Janeiro isso é muito claro, na região metropolitana mais ainda. A Coope/UFRJ fez recentemente uma pesquisa que mostra as pessoas saindo do ônibus e indo para o particular", revelou. 


Semove defende mais corredores exclusivos para ônibus


Para sair desse momento de desestímulo do uso do ônibus, Eunice disse, no evento mediado por Cintia Salomão, editora do portal Integridade ESG, que é preciso haver um planejamento com prioridade para o sistema de ônibus.


"A pessoa precisa ter confiança no sistema, precisa saber que o ônibus dela vai chegar e que ela vai ter o tempo de viagem que programou. E conseguimos isso a partir de sistemas prioritários, como, por exemplo, as faixas preferenciais. A pessoa precisa ter a noção do tempo dela de viagem e fazer o trajeto de forma rápida", refletiu a gerente da Semove.


Eunice defende ainda sistemas integrados através de uma integração completa, física, tarifária e operacional. Todos precisam do sistema completo, com infraestrutura, velocidade e integração.


Matteus de Paula Freitas, coordenador do Núcleo de Transportes da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), apontou três causas para os gargalos que explicam os longos congestionamentos urbanos do país. O primeiro é a questão das grandes distâncias entre as residências e os centros de atividade econômica. Outro ponto é a qualidade do serviço.


"A qualidade do transporte coletivo nas cidades brasileiras está muito aquém daquela que deveria ser", resumiu.


O terceiro ponto é a carência de infraestrutura. Segundo Freitas, na maior parte das grandes cidades brasileiras, não existem redes integradas de transporte.


Apesar de 90% do transporte coletivo ser realizado por ônibus urbanos, o modal não conta com tratamento prioritário. A quantidade de faixas exclusivas dos ônibus está muito aquém do necessário.


"Precisamos de investimentos nesse sentido para ganhar em velocidade operacional e em redução de lotação para melhorar a qualidade do serviço e a qualidade. Os caminhos para reverter isso passam, num primeiro momento, por investimento em capacitação e fortalecimento da governança".


"Não dá mais para colocar o ônus da operação somente sobre o usuário", diz coordenador da NTU


O geógrafo também destacou a necessidade de redução de tarifas, que passa por tarifa social:


"Não dá mais para colocar o ônus do financiamento do custeio da operação do transporte somente sobre o usuário", ressaltou, defendendo ainda um programa nacional de qualidade do transporte coletivo que estabeleça padrões mínimos de qualidade.


Cintia Machado de Oliveira, professora de Pós-graduação em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia e do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet), destacou algumas práticas para ajudar a reduzir de forma significativa as emissões de CO2 no país.


A professora e pesquisadora sugeriu integrar os modos de transporte, numa abordagem multimodal, com diferentes formas de transporte se complementando, e incentivo à mobilidade ativa, como caminhada e ciclismo.


"Isso envolve política pública e mudança de comportamento. É preciso incentivar a caminhada e o uso de bicicleta. Isso não só ajuda a reduzir as emissões, como melhora a questão de saúde pública, a qualidade de vida nas cidades. No entanto, a gente precisa garantir que existam ciclovias e que elas sejam seguras, que as calçadas sejam boas, que se possa caminhar. A caminhada tem que ser agradável e principalmente segura", enfatizou Cintia de Oliveira. 


Mudança coletiva exige esforço conjunto na mobilidade


Além disso, acredita que é necessário ciar campanhas educativas que abordem os impactos ambientais relacionados ao uso do transporte individual.


"É preciso incentivar o uso de alternativas sustentáveis para mudar a cultura e a mobilidade no país e desestimular, de alguma forma, o uso do automóvel individual", salienta.


A professora do Cefet acredita que é viável reverter a tendência do uso de carros particulares nos próximos anos, mas alerta que isso exige um esforço conjunto, da sociedade, do governo, da iniciativa privada.


"Essa é uma mudança coletiva, que envolve mudança nas políticas de mobilidade. Algumas ações podem contribuir para essa reversão, como investir em transporte coletivo, melhorar a qualidade e eficiência do transporte coletivo, com corredores exclusivos para ônibus, integração entre os modos, terminais acessíveis e segurança pública", concluiu a pesquisadora da COPPE/UFRJ.

 

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