Por Fernando Beltrame*
Foto: Divulgação
Em 1896, o cientista sueco Svante Arrhenius foi um dos primeiros a teorizar sobre a possibilidade de a atividade humana influenciar o clima, quando sugeriu que a queima de combustíveis fósseis poderia aumentar a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e aquecer o planeta. Em 1970, relatórios e estudos científicos começaram a focar na relação entre o aumento dos gases de efeito estufa e o aquecimento global e, no ano de 1988, foi criado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), crucial na avaliação de informações científicas sobre as mudanças climáticas.
Há mais de um século, os alertas, com estudos comprovados, foram emitidos. E há anos negam a realidade do aquecimento global e o quanto o ser humano tem papel fundamental neste fenômeno. As tristes catástrofes que temos acompanhado em todo planeta eram previstas, mas, o que chamamos de negacionismo climático seguiu prevalecendo.
Ao negar a realidade, sentida desproporcionalmente por comunidades mais vulneráveis e de baixa renda, as desigualdades foram 'escancaradas', principalmente no Brasil. O racismo ambiental – conceito que abrange tanto a injustiça ambiental quanto a discriminação institucional e sistêmica – é cada dia mais perceptível, colocando comunidades formadas por minorias raciais e étnicas, em áreas que sofrem de forma desigual com problemas e desastres ambientais. É um descaso sem fim e que está colocando o planeta à beira de um colapso.
Oportunidades de investir em tecnologias limpas e renováveis, que não só combatem o aquecimento global, mas promovem o desenvolvimento econômico sustentável, foram perdidas. Deixaram de ouvir aqueles que sempre estudaram e nos alertaram, fazendo com que a ignorância de muitos prevalecesse. Hoje, pagamos as piores consequências.
Muitos se questionam se há como resolver essa situação, e acredito que não, mas podemos reduzir impactos negativos futuros. Além de iniciativas e investimentos que precisam partir do poder público e privado, precisamos, urgentemente, lidar com a disseminação de falsas informações que circulam na internet. A percepção popular sobre as mudanças climáticas tem interferência direta de valores ideológico-partidários, e isso é um grande risco para a sociedade, afinal, essa manipulação ideológica da participação política existe e está sendo espalhada livremente.
Infelizmente, ainda presenciaremos novas catástrofes, e o número de refugiados climáticos será cada vez maior. Como cidadãos e vítimas, podemos cobrar ações do governo, confirmar a veracidade de notícias antes de compartilhá-las e respeitar os cientistas que há anos têm nos avisado que o pior estava por vir.
* Fernando Beltrame é mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.
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