Braço do G20 em ciência e tecnologia, fórum tem reunião inaugural até esta terça (12); encontro visa formular recomendações aos chefes de Estado e governo
Ilustração: Selo de divulgação
Com alertas sobre a necessidade de diminuir a desigualdade tecnológica e científica entre países e de traçar estratégias para atingir as metas de desenvolvimento sustentável, representantes das academias de ciências dos países membros do G20, organizações científicas internacionais e autoridades brasileiras participaram nesta segunda-feira (11) da reunião inaugural da 8ª edição do Science20 (S20), no Rio de Janeiro.
O fórum, que representa o grupo de engajamento em ciência e tecnologia do G20, tem como objetivo discutir temas críticos aos países e elaborar recomendações aos chefes de Estado e governo que participarão da Cúpula de Líderes, em novembro. A presidente da Academia Brasileira de Ciências e sherpa do S20, Helena Nader, frisou a importância da ciência na busca por soluções para desafios globais e comemorou o fato do Brasil retomar seu papel de liderança em meio aos debates.
"Estamos orgulhosos de ver o Brasil de volta ao cenário global buscando trabalhar multilateralmente com os países para construir soluções para os problemas globais, sobretudo depois um período turbulento em que o país enfrentou, junto à pandemia, discursos de desconfiança na ciência e em vacinas, assim como enfrentou ameaças à nossa jovem democracia, que foi reestabelecida em 1985", afirmou.
Nader também chamou a atenção para a necessidade dos países retomarem os compromissos firmados em 2015 na Agenda 2030, da ONU, que previa medidas para redução da pobreza e proteção do meio ambiente, entre outros pontos. Para ela, o S20 representa uma oportunidade para os países darem um passo à frente de forma a atingir os objetivos firmados.
"Estamos a apenas seis anos do prazo final estabelecido, e preocupados por estarmos longe das metas desejadas e acordadas nos objetivos de desenvolvimento sustentável", afirmou. "Acreditamos que os países do G20 e S20, além da União Europeia e Africana, podem ajudar nesta agenda", disse ela, que reforçou ainda a necessidade de que as discussões tenham sempre olhar para os impactos à sociedade e que haja atenção para as diferenças demográficas.
Presente na abertura do evento, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, reforçou a necessidade de cooperação para lutar contra a desigualdade científica e tecnológica entre os países. Ela cita dados de relatório da ONU que aponta que os países da América Latina, do Caribe e África Subsaariana são menos preparados para adotar ou adaptar tecnologias de ponta e estão sob risco de perder as atuais oportunidades tecnológicas importantes para um mundo de baixo carbono.
Segundo Santos, os temas abordados no S20 convergem com os tópicos trabalhados pela pasta no âmbito do G20, caso, por exemplo, da bioeconomia e inteligência artificial.
"A acelerada evolução dos sistemas de IA tem provocado debates intensos, centrados especialmente nos modelos generativos, seus riscos e benefícios. Esses debates, no entanto, frequentemente ignoram a concentração em poucos países e empresas de capacidades, base de dados e infraestrutura computacional, o que, somados, representa a ameaça de que países em desenvolvimento não colham os benefícios dessa revolução tecnológica", aponta.
Tatiana Berringer, cientista política do Ministério da Fazenda responsável pela trilha financeira do G20, disse ter expectativa de que os debates do S20 tragam contribuições à agenda do grupo. "A nova política industrial deve incluir inovação tecnológica com foco em sustentabilidade e na redução da desigualdade. Tenho confiança e otimismo que a comunidade científica pode contribuir com este objetivo.
"Gustavo Westmann, assessor da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador do G20 Social, citou a necessidade de ouvir segmentos da população, como os trabalhadores, na busca por construir soluções.
Os debates do S20 são distribuídos em cinco temas: inteligência artificial e impactos na sociedade, desafios da saúde, bioeconomia, processo de transição energética e justiça social.
Além de dar espaço para que cada academia traga suas contribuições para o debate, a reunião inaugural contou ainda com conferências de pesquisadores convidados e especialistas em suas áreas. Entre os palestrantes que participaram da agenda nesta segunda, estão Márcia Castro, demógrafa e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard, que abordou o tema da demografia e desafios da saúde no G20; Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho Superior de Inovação da FIESP, que falou sobre inovação para inclusão social e sustentabilidade; Fernanda de Negri, economista e diretora de estudos setoriais do IPEA, sobre inteligência artificial e os desafios para a democracia e a sociedade e Carlos Henrique de Brito Cruz, vice-presidente sênior da Elsevier Research Networks e professor emérito da Unicamp, que abordou oportunidades e desafios para colaboração em pesquisa no G20.
Nesta terça (12), está prevista ainda apresentação de um novo projeto da UNESCO focado no aprendizado em ciências para a educação (UNESCO Global Alliance of Science Learning for Education), além de participações de representantes de organizações científicas internacionais, que participam pela primeira vez do encontro.
O S20 é presidido neste ano pela Academia Brasileira de Ciências. O evento tem apoio da Finep e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Participam da conferência as Academias de Ciências da África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Japão, Índia, Indonésia, Itália, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e a Academia Europaea, representando a União Europeia. Também estão presentes representantes da Parceria InterAcademias (IAP), Conselho Internacional de Ciência (ISC), Academia Mundial de Ciências (TWAS), Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS), Associação de Academias e Sociedades de Ciências da Ásia (AASSA) e Rede de Academias de Ciências Africanas (NASAC).
Sobre o Science20
Criado em 2017, o S20 atua como grupo de engajamento do G20 para a área de ciência e tecnologia, envolvendo as Academias de Ciências dos países membros. Os debates ocorrem anualmente, sendo coordenados pela Academia de Ciências do país que preside o G20. As reuniões anteriores foram sediadas pela Alemanha (2017), Argentina (2018), Japão (2019), Arábia Saudita (2020), Itália (2021), Indonésia (2022) e Índia (2023).As recomendações emanadas do S20 são apresentadas oficialmente para consideração na reunião de Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo.
Por: Marcos André Pinto / Divulgação ABC
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