Cientistas validaram em laboratório uma metodologia que contribui para formar crostas ricas em ferro, ecossistemas únicos em biodiversidade da região amazônica da Serra dos Carajás, no Pará. As conclusões estão publicadas na edição de sexta (17) da revista “Frontiers in Microbiology” e são fruto de trabalho de pesquisadores do Instituto Senai de Inovação em Tecnologias Minerais, do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e das universidades federais do Pará (UFPA) e Fluminense (UFF).
FOTO: ROBERTO FRANCO JUNIOR / WIKIMEDIA COMMONS
Os resultados mais promissores partiram de tratamentos com adição de açúcar para estimular o crescimento bacteriano e com a introdução de bactérias que utilizam o ferro para obter energia para seu metabolismo. Os cientistas constataram que a atividade desses microrganismos contribuiu para a formação de biofilmes de ferro entre os fragmentos de canga, como são conhecidas essas crostas ferruginosas, provocando a cimentação, ou seja, o endurecimento da superfície.
O experimento buscou reproduzir, de forma acelerada, as condições ambientais que resultaram na formação das cangas ao longo de milhões de anos para verificar possíveis cenários de restauração do ecossistema. Para isso, os pesquisadores expuseram solos ricos em ferro, ao longo de cinco meses, a ciclos de irrigação e ressecamento. As amostras foram submetidas a três diferentes estímulos relacionados à ação de bactérias. Posteriormente, os resultados foram comparados com o tratamento controle.
“Essa pode se tornar uma estratégia para restaurar esses ambientes e deixar a mineração mais responsável ou diminuir seu impacto. Se conseguirmos restaurar essas crostas em campo, conseguimos gerar ambientes para a fauna e para a flora raras”, conta o pesquisador do ITV Markus Gastauer, coordenador do projeto de pesquisa. Segundo ele, a ideia é proteger espécies vegetais que só existem nesse ambiente. “Hoje, em Carajás, temos 38 espécies que só ocorrem ali”, exemplifica.
Atualmente, os pesquisadores estão avaliando a atividade dos microrganismos existentes na região. O objetivo é otimizar o processo de inoculação das bactérias nas crostas selecionando aquelas que podem trazer mais resultados em alterações mineralógicas. O método ainda precisa ser testado em condições reais, fora do laboratório. “Em campo, há outros fatores que influenciam ou podem complicar o processo. No laboratório não chove, por exemplo. É por isso que esses são os próximos passos, para verificar se, em campo, esse método é factível”, conclui Gastauer.
Fonte: Agência Bori
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