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Novo sistema produtivo integra pecuária de corte com plantio de teca

  • Foto do escritor: Solano Ferreira
    Solano Ferreira
  • há 17 horas
  • 6 min de leitura
Pesquisas com sistemas ILPF em Mato Grosso mostraram que as áreas com teca tiveram os maiores retornos financeiros. Um dos trabalhos indicou retorno de R$ 4,70 para cada R$ 1 investido - Foto: Maurel Behling
Pesquisas com sistemas ILPF em Mato Grosso mostraram que as áreas com teca tiveram os maiores retornos financeiros. Um dos trabalhos indicou retorno de R$ 4,70 para cada R$ 1 investido - Foto: Maurel Behling

A Embrapa Agrossilvipastoril (MT) está lançando o Sistema Bacaeri – BoiTeca, uma modalidade de integração pecuária-floresta, ou silvipastoril, que consorcia a pecuária de corte com a silvicultura de teca ( Tectona grandis ). Esse sistema de produção é uma forma de intensificação sustentável, adicionando uma fonte de renda para o pecuarista.


A teca é uma madeira nobre, nativa da Ásia, com grande potencial silvicultural e econômico nas regiões mais quentes do Brasil. Por meio deste sistema, são cultivadas linhas da árvore em meio à pastagem. Enquanto as árvores crescem, uma atividade peculiar é conduzida normalmente. Dessa forma é possível obter renda durante os cerca de 20 anos necessários até chegar ao ponto de corte. O gado só precisa sair da área nos 10 a 18 meses iniciais, período no qual é possível fazer uma integração com agricultura, colher o pasto para fazer silagem e feno, ou ainda aproveitar para recuperar a forrageira.

Foto: Gabriel Faria
Foto: Gabriel Faria

O manejo adequado de desrama das árvores não só possibilita a formação de um tronco reto, com madeira de melhor qualidade, como também permite uma maior entrada de luz na pastagem, evitando que haja perdas de produtividade do capim. Além disso, a sombra projetada pelas copas das árvores melhora o conforto térmico para o gado, permitindo maior ganho de peso. Pesquisas realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril também já demonstraram que o acesso à sombra beneficia o sistema imunológico e a produção de hormônios sexuais nos bovinos.


O pesquisador Maurel Behling explica que nos sistemas ILPF as árvores plantadas em linha apresentam maiores taxas de crescimento do que as árvores plantadas em monocultura devido ao chamado efeito bordadura, que é a maior entrada de luz e menor competição por água e nutrientes.


"Uma das vantagens desse sistema é a possibilidade de adicionar renda para o produtor sem se fazer a substituição de um monocultivo (pasto) por outra monocultura (floresta plantada). O objetivo é usar uma pecuária como uma forma de expansão do cultivo da teca", declara o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril.


Histórico


Os primeiros plantios de teca em sistema silvipastoril em Mato Grosso ocorreram em 2000, nas fazendas do produtor Arno Schneider, em Nossa Senhora do Livramento, na Baixada Cuiabana. Naquela época ele já vislumbrava a possibilidade de diversificar as fontes de renda e produzir carne de uma forma sustentável. As mudas eram produzidas por sementes e a cada ano a área com o sistema IPF era ampliada.


Alguns anos depois, em 2008, a fazenda Bacaeri, em Alta Floresta, que já cultivava teca em monocultura, decidiu iniciar uma integração com pecuária para antecipar a geração de receitas. Naquele momento, já havia chegado ao Brasil como mudas clonais e a fazenda de propriedade de Antônio Passos foi pioneira na IPF com teca clonal.


Com a criação da Embrapa Agrossilvipastoril em Mato Grosso em 2009, foram iniciadas pesquisas tanto na Fazenda Bacaeri quanto em Unidades de Referência Tecnológica como a Fazenda Gamada (Nova Canaã do Norte), Fazenda Brasil (Barra do Garças) e Fazenda São Paulo (Brasnorte). O conjunto de informações coletadas nessas áreas envolveu o desenvolvimento de recomendações técnicas para indicação do sistema produtivo, que recebeu o nome em homenagem à propriedade onde a maior parte do trabalho foi desenvolvido.


“Ter o sistema nomeado Bacaeri, o nome da nossa empresa desde 1983, nos deixa de alguma forma com a impressão de que tomamos atitudes corretas, e feitas bem-feito, para ter o aval e a aprovação da Embrapa, validando a nossa iniciativa, através do acompanhamento dos técnicos que validam os processos”, pondera o produtor Antônio Passos, da fazenda Bacaeri.


Atualmente a estimativa da Embrapa é que uma área com uso de sistema silvipastoril com teca seja de 4 mil hectares em Mato Grosso. O estado conta com 68 mil hectares (há) com monocultivo de teca, segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária ( Imea ), o que corresponde a 80% dos 84 mil ha com a árvore no Brasil. Antônio Passos vê grande potencial de expansão do sistema, porém alerta sobre limitações de solo e clima e a necessidade de fazer o manejo adequado.


“A teca é muito exigente e tem um crescimento lento em solos inadequados. Portanto, isso já limita muito as áreas disponíveis. A segunda limitações é a tradição de não investir a longo prazo. Nesse caso, o prazo de retorno é superior a 20 anos, chegando talvez a até 30 anos. O terceiro ponto é a dedicação à silvicultura, principalmente com a poda das árvores, e a atenção para os animais não danificá-las”, enumera Passos.

Foto: Maurel Behling
Foto: Maurel Behling

Parceria e lançamento


O uso da teca em sistemas ILPF foi descrito e detalhado em um capítulo do  livro Teca ( Tectona grandis ) no Brasil, o que despertou interesse da empresa Teak Resources Company (TRC). Uma parceria foi firmada com a Embrapa para validação do sistema produtivo e para divulgação por meio de eventos. Um desses eventos será realizado no dia 8 de maio, na fazenda Duas Lagoas, em Cáceres (MT), evento que será feito o lançamento oficial do Sistema Bacaeri – BoiTeca.


Desde que a parceria foi firmada, no ano passado, 350 ha foram instalados em um modelo de parceria com três pecuaristas em Mato Grosso e um no Pará. Os dois estados são o foco da TRC para expansão deste sistema.


"A capacidade atual é de implementação de cerca de 2,5 mil ha/ano. Temos produção de mudas suficientes para isso em 2025. Serão 12.500 ha em cinco anos", afirma o diretor de Relações Institucionais e Pesquisa da TRC Fausto Hissashi Takizawa.


Fausto explica que inicialmente pecuaristas mais arrojados e com maior preocupação ambiental são aqueles com melhor acessibilidade do sistema. Porém, ele já percebe a curiosidade e o interesse por parte dos pecuaristas mais conservadores que defendem nesse sistema uma forma de intensificar a produção.


“Tendo interesse crescente de pecuarista, área disponível para parceria e recursos financeiros por meio de agente financeiro, a TRC tem condição de ampliar além desses 12,5 mil hectares, podendo chegar a 15 mil ha ou um pouco mais em cinco anos”, afirma Takizawa.

Foto:  Maurel Behling
Foto:  Maurel Behling

Recomendações técnicas


O Sistema Bacaeri – Boi Teca traz as recomendações técnicas para o produtor que quer utilizar a tecnologia, desde o planejamento da área, definição de espaçamento entre plantas e entre linhas e preparo do berço, até as técnicas de podas e desramas a serem realizadas para garantia de melhor qualidade da madeira.

As recomendações passam também pelo controle de plantas específicas, formigas e doenças, recomendações nutricionais e cuidados para evitar incêndios na área. Todas essas informações fornecidas podem ser obtidas nos materiais disponíveis aqui .

 

Adição de renda


Pesquisas realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril em Unidades de Referência Tecnológica com sistemas ILPF em Mato Grosso mostraram que as áreas com teca apresentaram os maiores retornos financeiros. Um dos trabalhos, utilizando dados reais da Fazenda Bacaeri, indicou um retorno de R$ 4,70 para cada R$ 1 investido. Embora o custo inicial seja mais alto, em torno de R$ 3,2 mil por hectare, a pecuária e os desbastes iniciais das árvores permitem o retorno do investimento com oito anos. A maior receita, no entanto, ocorrerá no corte raso das plantas, entre os 18º e 25º ano do sistema. Com base nos dados da Unidade de Referência Tecnológica (URT) da Fazenda Bacaeri, o Valor Presente Líquido (VPL) foi estimado em R$ 2.854,53 por hectare por ano.


Embora os números sejam atrativos, Behling alerta para o fato de que o lucro só será obtido com a utilização de tecnologias específicas, cuidados em todas as etapas do manejo e da cadeia de suprimentos.


"Não basta apenas plantar as árvores de teca de qualquer maneira no sistema integrado e ficar esperando que elas cresçam para que os lucros brotem para o produtor. É necessário investir em tecnologia, insumos adequados, operações corretas e eficientes, monitoramento constante fitossanitário e garantia de produtividade e qualidade da madeira ao longo de todo o ciclo de gerenciamento. Se isso tudo não for feito, a decepção será grande", alerta o pesquisador da Embrapa.


Tecnologia sustentável


Os sistemas ILPF, como o Boi Teca, permitem a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, além de reduzirem a pressão sobre o corte de madeira em florestas nativas. Ao aumentar a produtividade da pecuária, é possível reduzir a emissão de metano por quilograma de carne. Ao mesmo tempo as árvores estocam carbono em seu tronco, raízes e galhos.


Com essas características, esse sistema produtivo pode ser uma das ferramentas do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis. Também pode dar a possibilidade de o pecuarista pleitear créditos de carbono e agregar valor à produção por meio de certificações como Carne Carbono Neutro (CCN) ou Carne Baixo Carbono (CBC).


Gabriel Faria (MTb 15.624 MG)

Embrapa Agrossilvipastoril

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