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Porto Velho sob ataque: Lições e desafios na luta contra o crime organizado

Foto do escritor: Solano FerreiraSolano Ferreira

Por Joel Elias


Porto Velho tem sido palco de uma onda de violência alarmante, evidenciando um problema estrutural de segurança pública que não é exclusividade da capital rondoniense, mas que adquire contornos especialmente graves no contexto local. Na noite de 15 de janeiro de 2025, a cidade foi tomada por uma série de ataques coordenados atribuídos à organização criminosa Comando Vermelho (CV), que resultaram em oito mortes, dezenas de veículos incendiados, incluindo ônibus escolares e de transporte coletivo, e um clima generalizado de medo. Este cenário caótico expõe não apenas a violência explícita, mas também as falhas profundas nas políticas de prevenção e repressão ao crime, além da ausência de planejamento urbano eficaz que contribui para a vulnerabilidade de comunidades inteiras.



Foto: Ascom/Sesdec RO
Foto: Ascom/Sesdec RO

A ascensão de facções criminosas em territórios urbanos como Porto Velho não é um fenômeno social isolado, mas o reflexo de um problema que se alastra pelo Brasil. O Comando Vermelho, uma das maiores organizações criminosas do país, tem explorado a negligência do Estado em locais de baixa renda para consolidar seu poder. A invasão de conjuntos habitacionais populares, como o residencial Orgulho do Madeira, é um exemplo claro desse processo. Projetos habitacionais destinados a populações vulneráveis frequentemente são entregues sem um plano de segurança, tornando-se alvos fáceis para facções que buscam estabelecer territórios. Esses espaços passam a ser controlados por grupos criminosos, que impõem suas regras e utilizam a população como escudo humano em conflitos com o Estado.


Os ataques recentes em Porto Velho revelam, sobretudo, uma falha gritante na inteligência policial. A capacidade de antecipar movimentações de facções criminosas é um dos pilares fundamentais para evitar situações como as que ocorreram na capital rondoniense. No entanto, a reação tardia das autoridades à escalada de violência demonstra que, mesmo diante de sinais claros de aumento da atividade criminosa, não houve ações preventivas eficazes. A morte de um cabo da Polícia Militar e de um líder do Comando Vermelho, que precederam os ataques, deveriam ter servido como alerta para uma possível retaliação. Esse tipo de previsão é fundamental, pois ataques dessa magnitude não são organizados de forma espontânea; eles requerem planejamento, comunicação e recursos, todos rastreáveis por mecanismos de inteligência bem estruturados.


Outro ponto que merece destaque é o impacto direto da urbanização desordenada na segurança pública. Porto Velho tem crescido de forma acelerada, mas sem o devido planejamento. Conjuntos habitacionais como o Orgulho do Madeira são frequentemente localizados em áreas periféricas, afastadas de serviços essenciais e com acesso limitado a transporte, educação e saúde. Essa situação cria um ambiente propício para a atuação de facções criminosas, que se aproveitam da fragilidade estrutural para oferecer uma pseudo-ordem, preenchendo o vácuo deixado pelo poder público. Além disso, a concentração de pessoas em espaços reduzidos, sem alternativas de lazer ou oportunidades de desenvolvimento econômico, contribui para o aumento das tensões sociais e da violência.


É importante ressaltar que soluções para problemas complexos como esse não podem ser simplistas ou unilaterais. O combate ao crime organizado exige um conjunto de medidas integradas que envolvam segurança, educação, saúde e desenvolvimento econômico. Um exemplo bem-sucedido vem de Medellín, na Colômbia, que enfrentou um dos piores índices de criminalidade do mundo na década de 1990. A cidade implementou um modelo de intervenção que combinava repressão qualificada ao crime com investimentos massivos em educação, transporte público e infraestrutura cultural nas áreas mais vulneráveis. Essa abordagem reduziu drasticamente os índices de violência, promovendo a reintegração social de comunidades marginalizadas.


No caso de Porto Velho, é imprescindível que o Governo do Estado e a Prefeitura atuem em conjunto para formular um plano abrangente de segurança pública que inclua a participação ativa das comunidades afetadas. Investimentos em tecnologia para monitoramento, como câmeras de vigilância e sistemas de reconhecimento facial, podem ajudar a dissuadir ações criminosas e melhorar a capacidade de resposta da polícia. Além disso, a presença constante de agentes comunitários de segurança pode estabelecer um canal direto de comunicação entre a população e as autoridades, criando uma relação de confiança que é essencial para o enfrentamento do crime organizado.


No entanto, é fundamental reconhecer que nenhuma política de segurança será eficaz sem um compromisso real com a redução das desigualdades sociais. A implementação de programas de inclusão, como cursos profissionalizantes, incentivos à geração de empregos e a ampliação do acesso à educação de qualidade, é essencial para oferecer alternativas reais às populações vulneráveis que frequentemente são aliciadas por facções criminosas. Medidas como essas, embora de impacto mais lento, são as que realmente transformam a dinâmica de violência urbana a longo prazo.


Porto Velho está diante de um desafio monumental que exige uma resposta à altura. A solução para a crise de segurança não virá apenas da repressão ou da presença ostensiva da polícia, mas da capacidade de o Estado ocupar de forma lícita os espaços hoje dominados por facções, devolvendo à população o direito de viver em um ambiente seguro e digno. Cabe às lideranças políticas do estado e do município demonstrarem coragem e visão estratégica para enfrentar a questão de forma estrutural, garantindo que tragédias como a ocorrida em janeiro de 2025 não se repitam.



* Joel Elias é jornalista atuante na Amazônia brasileira.

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