Sementes no cocô de antas germinam mais rápido e recuperam floresta degradada
- Solano Ferreira
- 3 de jul.
- 2 min de leitura

Anta sul-americana em seu habitat natural; a espécie é importante para a regeneração de florestas - Foto: vladimircech / Freepik
Sementes ingeridas por antas podem germinar mais rapidamente do que aquelas que caem diretamente das árvores, aponta um estudo publicado nesta sexta‑feira (27) na revista Acta Amazonica. Conduzida por pesquisadores do Programa de Pós‑graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates (Universidade do Vale do Taquari) e do Instituto de Geociências da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), a pesquisa reforça o papel desse mamífero como aliado natural na recuperação de florestas degradadas.
Entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, a bióloga Lucirene Pinto coletou fezes de antas em 140 latrinas numa área de preservação permanente no entorno de uma usina hidrelétrica, na transição Amazônia–Cerrado, em Mato Grosso. Em 88% dessas amostras havia sementes.
No laboratório, os cientistas testaram 100 sementes por tratamento para cada uma das seis espécies nativas analisadas: Spondias mombin (cajá‑da‑mata), Terminalia corrugata (mirindibá‑do‑cerrado), Enterolobium schomburgkii (angelim‑favela), Samanea tubulosa (sete‑cascas), Psidium sp. (goiabinha‑do‑mato) e Genipa americana (jenipapo).
Os resultados mostraram que a passagem pelo trato digestivo das antas elevou a taxa média de germinação para cerca de 60%, chegando a 89% em algumas espécies. Além disso, em pelo menos três delas, as sementes defecadas brotaram até duas vezes mais rápido que o controle: a goiabinha‑do‑mato germinou em 15 dias (contra 38 dias) e o jenipapo, em 17 dias (contra 40 dias). Em quatro das seis espécies, porém, um tratamento de escarificação manual — fricção das sementes para imitar a abrasão no intestino — produziu resultados ainda melhores, reduzindo o tempo de brotação para 22 dias em Terminalia corrugata e para cerca de 40 dias em Spondias mombin.
“Nas antas, as sementes são expostas a tratamentos: um químico, com microrganismos e enzimas, e outro físico, pela maceração no intestino”, explica o biólogo Mateus Marques Pires, coautor do artigo. Segundo o pesquisador, estudos sobre dispersão de sementes por antas remontam aos anos 1980, mas só agora foi quantificada com precisão a aceleração da germinação.
Para Pires, o animal — último mega frugívoro da América Latina — pode funcionar como facilitador da regeneração florestal. “Estamos em uma situação de perda acelerada de florestas; quanto mais rápido elas se recuperarem, maior o benefício ecológico para a biodiversidade e para o clima”, afirma. O grupo pretende agora investigar como variações sazonais, como estações secas ou chuvosas, influenciam o desempenho das sementes dispersadas pelas antas.
Fonte: Agência Bori
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