Brasil acima de tudo? A contradição de quem festeja o prejuízo da nação
- Solano Ferreira
- 14 de jul.
- 3 min de leitura

Por Joel Elias
DRT: 138 /AP
Uma ofensiva direta à soberania brasileira foi deflagrada pela Casa Branca. A decisão de Donald Trump de sobretaxar em 50% todos os produtos nacionais não é um ato de política comercial, mas uma explícita manobra de chantagem. O pretexto, um fictício prejuízo comercial americano, não resiste à análise dos fatos, que mostram um histórico de superávit para os EUA. A verdadeira moeda de troca, revelada na carta de Trump, é a impunidade de Jair Bolsonaro e seus aliados, investigados pela tentativa de golpe de 8 de janeiro.
Contudo, o aspecto mais alarmante deste episódio não é a agressão externa, mas a colaboração interna. Figuras da extrema direita, que se elegeram com um discurso inflamado de amor à pátria, agora atuam como porta-vozes da medida punitiva, pedindo que brasileiros agradeçam pela sanção que ataca a economia e a soberania nacional. Este comportamento expõe a natureza de seu "patriotismo": uma retórica de conveniência, descartada em favor de um projeto familiar de poder.
A suposta alegação de Trump sobre um desequilíbrio comercial é uma mentira deliberada, questionada pela própria imprensa americana, como mo editorial do jornal The New York Times do último domingo. Os Estados Unidos, na verdade, são o segundo maior parceiro comercial do Brasil e, historicamente, a balança pende a seu favor. No primeiro semestre de 2025, o superávit americano na relação bilateral foi de US$ 1,7 bilhão. A tarifa, portanto, não tem fundamento econômico. Seu propósito é puramente político: usar a força econômica para coagir o sistema judiciário brasileiro a abandonar os processos contra Bolsonaro e os responsáveis pela depredação da Praça dos Três Poderes. Trata-se de uma interferência inaceitável, que visa submeter as instituições democráticas do Brasil aos interesses de um líder estrangeiro e seus aliados locais. É uma afronta que deveria unir todas as correntes políticas em defesa da autonomia nacional.
Enquanto a nação ainda absorvia o duro golpe, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, diretamente dos Estados Unidos, protagonizou um dos atos mais servis e vergonhosos da história política brasileira. Em um vídeo, ele não apenas defendeu a tarifa de Trump, mas a classificou como uma "Tarifa-Moraes", conclamando empresários a deixarem o Brasil. Sua mensagem foi clara: a punição econômica ao país é um "convite" para que o capital nacional migre para os EUA, como forma de pressionar as autoridades brasileiras. É uma performance sem precedentes. Um representante eleito pelo povo brasileiro, cujo dever é zelar pelos interesses do país, agindo abertamente como lobista de uma potência estrangeira contra sua própria nação. A atitude de Eduardo Bolsonaro transcende a oposição política e se configura como um ato de deslealdade nacional, um antipatriotismo colocando os interesses de sua família acima dos do Brasil.
A crise atual, no entanto, desnuda a grande farsa do bolsonarismo. O movimento que se apropriou da bandeira nacional e acusou adversários de "entreguismo" é o mesmo que agora aplaude uma medida que ameaça empregos e empresas no Brasil. O patriotismo, em seu dicionário, é apenas um instrumento para mobilizar sua base e demonizar oponentes.
Quando confrontado com a possibilidade de responsabilização criminal, o clã Bolsonaro não hesita em leiloar a soberania nacional. A articulação para proteger o ex-presidente, mesmo ao custo de uma crise econômica induzida por um aliado externo, revela a verdadeira prioridade do grupo: a blindagem da família. Não há preocupação com os produtores rurais, com os trabalhadores da indústria ou com a imagem do Brasil no mundo. O que importa é garantir a impunidade, e para isso, vale até mesmo celebrar o prejuízo da nação que juraram defender.
O Brasil, contudo, não é colônia. A resposta à chantagem deve ser firme, unindo a sociedade em repúdio à interferência externa e, principalmente, aos seus colaboradores internos. O verdadeiro patriotismo reside na defesa intransigente da soberania e da democracia, não na submissão a interesses estrangeiros para salvar um projeto político pessoal.
* Joel Elias é jornalista atuante na Amazônia brasileira.










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