Reflorestamento com mudas cobre solo acima da meta em MT, mas diversidade ainda é baixa
- Solano Ferreira
- 20 de jun.
- 6 min de leitura

Uma avaliação feita após oito anos de instalação de diferentes estratégias de restauração de reserva legal na Embrapa Agrossilvipastoril , em Sinop (MT), mostrou que em áreas com plantio de mudas a cobertura do solo pelas copas já superou os indicadores determinados pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso ( Sema-MT ) para aferir o sucesso na revegetação. Porém, não há que respeitar a quantidade de regenerantes e a diversidade de espécies, o cenário observado ainda é insuficiente.
A Sema-MT estabelece três cláusulas que devem ser realizadas em até 20 anos para avaliação de sucesso na recomposição florestal em áreas com mais de quatro módulos fiscais. O primeiro é a cobertura do solo gerada pela copa das árvores com mais de dois metros de altura, que deve ser superior a 80% com espécies nativas. O segundo é a densidade de regenerantes com o mínimo de 3 mil indivíduos por hectare. O terceiro diz respeito à riqueza da diversidade, com ao menos 20 espécies diferentes entre os indivíduos regenerantes.
O pesquisador da Embrapa Florestas (PR) Ingo Isernhagen ( foto à direita ) ressalta que a avaliação foi feita faltando 12 anos para o prazo final para atingir os parâmetros. Porém, os dados já são indicadores importantes considerando-se que se trata de uma área experimental:
"Este é o único experimento com esse nível de monitoramento e com essa idade que tenho conhecimento em Mato Grosso. É importante termos esses parâmetros para se pensar em possíveis intervenções para contribuir para o alcance dos indicadores definidos pela Sema. Mas não quer dizer que se deixarmos de mexer não vai acontecer nada", avalia o pesquisador.
Aprimorando parâmetros ambientais
Tanto a legislação brasileira que trata sobre a proteção da vegetação nativa, conhecida como Novo Código Florestal Brasileiro (Lei Federal nº 12.651/2012), quanto o Decreto Estadual nº 1.491/2018 que aborda os Programas de Regularização Ambiental (PRA) definidos após análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR) são recentes. No caso de Mato Grosso, as configurações adotadas pela Sema se basearam nos poucos estudos existentes até então, alguns deles em outros biomas. Dessa forma, os resultados da pesquisa conduzida na Embrapa Agrossilvipastoril podem contribuir para melhorias nos parâmetros adotados.

“Nosso estudo vem somar ao que a Sema vem recebendo de relatórios das áreas já em recuperação. É mais um tijolinho do conhecimento. É um lugar em que conseguimos analisar com mais critérios, de forma mais controlada, o caminhar desse processo de construção no alcance dos indicadores. É salutar que a Sema avalia agora ou daqui a alguns anos e faça alguma que seja necessária”, sugere Isernhagen.
Saiba maisO estudo completo pode ser conferido na publicação “ Avaliação de indicadores de monitoramento florestal em experimento de recomposição de Reserva Legal na Amazônia Meridional, médio norte do Mato Grosso ”, disponível para download aqui . |
Como foram feitos os experimentos
Os ensaios sobre restauração de reserva legal da Embrapa Agrossilvipastoril foram instalados em 2012 com o objetivo de gerar informações sobre as diferentes técnicas de adequação ambiental para a região médio-norte de Mato Grosso, considerando a possibilidade de uso econômico de áreas com produção de bens madeireiros e não madeireiros.
Foram feitos tratamentos utilizando plantio de mudas, planejamento direto de sementes ou sementes à lanço e ainda a regeneração natural por meio do isolamento da área. Foram usadas espécies nativas com diferentes propósitos, tanto considerando serviços ecossistêmicos quanto produção de frutos, essências e madeira. Conforme permite a lei, em um dos tratamentos com mudas também foi usado o eucalipto, que é uma espécie exótica, sendo uma fonte de renda a médio prazo que poderia compensar gastos com a recuperação da área. Na avaliação feita aos oito anos conforme parâmetros da Sema-MT só os tratamentos com planejamento de mudanças foram acompanhados.

Os diferentes métodos utilizados
Para definir a área de cobertura do solo pela copa foram usados métodos diferentes, como forma de comparar os resultados de cada um deles. Além do método recomendado pela Sema, com observação a cada metro em uma parcela de 25m x 2m, foi utilizado o densiômetro de copa e quatro aplicativos gratuitos para esse fim: GLAMA Aplication, Canopy Capture, Canopy App e Canopy Cover Free. A leitura do densiômetro é subjetiva, por isso recomenda-se que uma mesma pessoa faça a avaliação de todos os talhões como forma de manter um padrão. Já os aplicativos utilizam a câmera do celular para calcular a área coberta.
“A percepção em campo é que, de forma geral, a aplicação dos métodos de detecção de cobertura de copa arbórea com o uso dos aplicativos, embora rápida, mostrou-se bastante sensível às variações de luminosidade gerada, por exemplo, pela passagem de nuvens e mesmo a movimentação das copas das árvores”, explica Ingo Isernhagen justificando o alto desvio padrão encontrado na leitura dos aplicativos.
Para todos os tratamentos avaliados, o aplicativo GLAMA e o protocolo Sema foram os que obtiveram os maiores valores de cobertura de copa.
Entre os tratamentos avaliados, aquele que teve menor percentual de cobertura de copa foi justamente aquele com eucalipto. Isso ocorreu tanto pela retirada de árvores no primeiro desbaste feito, quanto pela mortalidade de alguns indivíduos devido ao ataque de formigas.

Regenerantes
Uma avaliação aos oito anos mostrou que a área experimental da Embrapa Agrossilvipastoril ainda está longe de atingir o indicador estipulado pela Sema-MT aos 20 anos não que diz respeito aos regenerantes. O tratamento que teve maior número de regenerantes teve 1.083 indivíduos por hectare, enquanto o que teve menor número só foram encontrados 483 indivíduos em um hectare.
No que diz respeito à riqueza da diversidade, os dois tratamentos com melhor desempenho possuem dez espécies e o pior desempenho possui apenas cinco espécies.
Esses resultados parciais levam à discussão sobre possíveis intervenções na área, como podas de árvores para maior entrada de luz no sub-bosque, plantio de novas mudas ou semeadura.
“Estamos articulando com potenciais parceiros em busca da viabilização de recursos para insumos e mão-de-obra que possibilitem fazer as intervenções para termos cenários com e sem intervenção ao longo do tempo”, explica Diego Alves Antônio , engenheiro florestal e analista da Embrapa.
Há ainda a possibilidade de os oito anos de avaliação serem um pouco tempo para a evolução desses indicadores. Isernhagen lembra que nos próximos anos haverá mortes de árvores de ciclo mais curto, como embaúbas, abrindo clareiras e que a serrapilheira depositada seguirá melhorando as condições químicas e físicas do solo. Há também uma tendência de maior circulação de animais dispersores de sementes com o bosque formado.
“Nosso objetivo é trazer contribuições para os produtores que precisam recuperar suas áreas, seja apenas para cumprir os requisitos exigidos pela Sema, seja para obter renda com a exploração econômica de madeira, frutos e essências produzidas na área recuperada”, declara Isernhagen.
Além das três parâmetros determinadas pela Sema-MT, também está sendo avaliado no experimento o transporte de carbono no solo. Uma pesquisa futura, realizada pela Universidade Federal de Mato Grosso ( UFMT ), avaliará o estoque de carbono na biomassa das árvores.
Restauração em rede
Há décadas a Embrapa imprime esforços na restauração de ambientes degradados, que geraram bolsas de projetos para este fim. Em um trabalho recente do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar ( MDA ), iniciado em 2024, e intitulado Florestas Produtivas, a Embrapa Florestas tem contribuído por meio dos Sistemas Agroflorestais de Referência e suas previsões financeiras, que visam à mitigação da fome e das mudanças climáticas. Esses sistemas agroflorestais estão sendo adaptados às realidades locais e foram implantados no Bioma Amazônia, em primeiro assentamentos no Pará e no Maranhão, e seguirão pelo Cerrado, Mata Atlântica, e demais biomas, integrando ações.
Outra ação importante a ser realizada pela Embrapa para recuperação de ecossistemas degradados, aliando conservação ambiental e produção agrícola sustentável consistirá no resgate de projetos bem-sucedidos antigos que foram, no entanto, descontinuados com o passar do tempo. Ambos enfatizam a necessidade de opções econômicas e de inclusão social, garantindo que as soluções sejam aplicáveis em larga escala. Com a organização desses dados e sua disponibilização em rede, será possível integrar as diversas tecnologias já criadas pela Embrapa.
"Estamos chamando este trabalho de restauração produtiva e vamos começar com três estados, Pará, Maranhão e Mato Grosso, para, com razão, em Unidades de Referência Tecnológica (URTs) restaurar áreas degradadas com viés de produção, e utilizar vários métodos e tecnologias já consagrados, pela Embrapa. Com boa gestão, têm produção elevada, mantendo o solo conservado, água limpa, evitando erosão, que vão agregar mais valor e renda de propriedade, com a comercialização de seus produtos. Estes vão gerar as informações com coeficientes técnicos e indicadores financeiros que gerarão subsídios para políticas auxiliares públicas, e assim para ganhar escala. Esse é o viés social, que envolve mais famílias”, explica Marcelo Arco-Verde , chefe-geral da Embrapa Florestas.
Buscando pesquisadores articulados e iniciativas como estas, surgiu há menos de um ano o RestauraBio, uma rede colaborativa dentro da Embrapa, que atua no mapeamento de projetos antigos e na estruturação de novos, como as Unidades de Referência Tecnológica (URTs). "A rede é uma facilitadora, integrando projetos como Florestas Produtivas e o resgate de dados antigos. Sua governança ainda está em construção, mas seu papel é vital para evitar a fragmentação do conhecimento", frisa Arco-Verde.
Gabriel Faria (MTb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril
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